(Netflix) Eric quando o “monstro” mora dentro da gente
Assisti ontem a Eric e saí surpreendido. A série começa como um caso de criança desaparecida na Nova York dos anos 80, mas logo revela que o mistério é só a porta de entrada para algo maior.
Assisti ontem a Eric e saí surpreendido. A série começa como um caso de criança desaparecida na Nova York dos anos 80, mas logo revela que o mistério é só a porta de entrada para algo maior: um mergulho em culpas, vícios, segredos e nas muitas faces dos “monstros” que carregamos.
Resumo sem spoilers
A premissa é simples: uma família é despedaçada pelo sumiço do filho, e a busca por respostas arrasta todos para um labirinto de pistas, mentiras e memórias dolorosas. O que poderia ser “mais uma história de desaparecimento” vira um estudo de caráter. A série contrapõe monstros imaginários — nascidos da fantasia de um programa infantil — a monstros internos (traumas, culpas, autossabotagem) e aos monstros reais, aqueles que a cidade esconde nas suas rachaduras.
Por que funcionou para mim.
Investigação com coração: a trama policial é consistente, cheia de desvios inteligentes e reviravoltas que respeitam o espectador. Não há facilidades: cada pista cobra um preço emocional.
Metáfora potente dos monstros: adorei como a série usa a figura lúdica do “monstro amigável” da TV infantil para falar de dores adultas. É bonito e, ao mesmo tempo, incômodo — a fantasia vira um espelho nada indulgente.
Clima de época sem caricatura: a Nova York oitentista aparece suja, viva, contraditória. O cenário não é só pano de fundo; ele empurra a história, mostrando desigualdades, paranoia e a sensação de uma cidade à beira do colapso moral.
Personagens que sangram: todo mundo tem algo a esconder. A série não julga rápido — dá camadas, mostra contradições e nos coloca na pele de gente tentando se agarrar ao pouco de luz que resta.
O que poderia ser melhor.
Existe, sim, uma “barriga” no meio — um trecho que alonga subtramas e tira um pouco do fôlego. Nada que estrague a experiência, mas você sente a marcha reduzir. A boa notícia é que o roteiro retoma a pulsação, amarra as linhas principais e entrega um final que, mais do que “explicar”, faz pensar.
A direção valoriza silêncios e expressões, a fotografia cria um corpo para a cidade (fria quando precisa, febril quando explode), e a trilha entra na medida certa, sem sublinhar emoções óbvias. É uma série que confia no público.
Eric é mais do que um “quem fez?”. É um “quem somos quando a verdade encosta na pele?”. Mesmo com uma pequena barriga, a série prende, surpreende e deixa ecos depois do último episódio. Um drama investigativo que conversa com a cabeça e com o coração — e que usa os monstros, dos imaginários aos íntimos, para nos lembrar que crescer é, muitas vezes, aprender a olhar o escuro sem desviar.